Vez por outra, chega ao nosso conhecimento a triste notícia de um recém-nascido encontrado, infelizmente, já sem vida em um terreno baldio ou numa lata de lixo. As manifestações comuns observadas nas pessoas são compatíveis e compreensíveis, ante a gravidade da ocorrência, considerando, ainda, que fatos dessa natureza, envolvendo crianças recém-nascidas, sempre mexem com a sensibilidade das pessoas.
Porém, devemos fugir do lugar comum das condenações peremptórias. Por isso convidamos você, leitor, para meditar um pouco, buscando auxílio na doutrina espírita que nos ajuda a melhor compreender o que ocorre nesse fenômeno, denominado “infanticídio“, conhecido e estudado há bastante tempo e citado em diversas obras.
No Brasil, é tratado como crime e tem pena diminuída em relação ao crime de homicídio, vindo em dispositivo próprio do nosso Código Penal (art. 123). O fato-crime infanticídio considera-se ocorrido desde que seja praticado pela mãe sob influência do estado puerperal. Segundo estudiosos, a mãe nesse período, pelas mais diversas razões, pode apresentar comportamentos e atitudes semelhantes a quadros psicóticos, depressão e perturbação emocional acompanhada de rejeição ao filho recém nato, não suficiente, porém, para afastar sua responsabilidade, somente atenuá-la.
Observando o fato com as lentes da doutrina espírita e levando em conta a crença na reencarnação, a situação ganha contornos muito mais complexos. Imagine-se, por hipótese, que, agravando o quadro puramente biológico decorrente do parto em si e o quadro psicológico e social da mãe (que normalmente não é dos mais fáceis), esteja ela a sofrer, por sintonia vibratória com o espírito reencarnante que traz em seu ventre, um mal-estar, uma repulsa sem explicação, decorrente de reminiscências de uma experiência dolorosa em vida anterior, que poderia já vir sentindo antes mesmo do parto. Complicado, não é? Pode ter sido o caso? Quem sabe?
Não pretendemos com isso justificar ou absolver ninguém, nem afirmar que a doutrina espírita tem explicação para tudo ou que tudo é reencarnação (se bem que a reencarnação explica muita coisa). A doutrina espírita baseia-se na lógica e no bom-senso e esse exemplo que trouxemos serve para confirmar a máxima que Jesus procurou nos ensinar no caso da mulher acusada de adultério e que estava prestes a ser apedrejada. Evitemos os julgamentos apressados e definitivos e sejamos, antes de tudo, conscientes de que não estamos, e dificilmente estaremos, a par do que acontece no íntimo de cada criatura humana.
Nos resta, pois, orar pelos envolvidos.