Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.João Cabral de Melo Neto
O poeta pernambucano explora neste poema a crendice popular (muito antiga) de que o cantar dos galos faz nascer o Sol. A imagem mental que produz é perfeita.
Pegando carona nessa imagem e colocando as pessoas no lugar dos galos e nossos pensamentos como sendo nosso canto…
Seremos capazes de tecer o dia e fazer nascer o Sol (da paz) se todos cantarmos corretamente?
Seremos capazes de fechar o tempo e produzir tormenta sobre nossas cabeças??